Uma coisa é certa sobre mim: eu sou um Ceifador. Criado para matar e fadado a viver no submundo, não conhecia outras regras além daquelas que foram estabelecidas pelos meus antepassados, dezenas de anos atrás. “Respeitar os seus irmãos e conviver em harmonia”, era o que diziam os antigos escritos. “Nunca permita que uma mulher sobreponha sua família”, um dos princípios mais rígidos. Alguém já havia quebrado aquela regra antes, e eu estava disposto a não seguir pelo mesmo caminho... Até ela aparecer.
Imerso pela primeira vez em um mundo que não conhecia, eu estava disposto a sugar da sua alma jovem e refrescante. Lambi cada gota melancólica de suas lágrimas, embalando-a em suas crises de desesperança. Eu ouvi seus pensamentos e bebi dos seus segredos. Me aproveitei da sensação de ser o confidente de alguém. Aceitei seu corpo, mesmo sabendo que aquela atitude egoísta não era a melhor decisão para nós dois, e a segurei com tentáculos de uma água-viva, enquanto ela achava que voava sobre mim feito uma borboleta.
No entanto, minha máscara se quebrou, e tudo o que eu tinha eram seus olhos escuros me encarando com raiva sob o peso das minhas mentiras. No momento em que eu tive que voltar a ser quem eu verdadeiramente era, sua alma lutou com bravura. “Não me leve embora”, ela sussurrou por entre as sombras. “Deixe-me ir”, suplicou em silêncio. Permiti que escapasse. Deixei que ela voasse para onde os meus tentáculos teriam dificuldade de alcançar; mas quando o resultado das minhas atitudes, mais uma vez, cobrou seu preço, eu não tive escolha. Farejei seus rastros. Segui seus passos. E finalmente a levei.
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